PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES

J. Romero1*

* jose.romero@neomixconcreto.com.br

RESUMO

A igreja Santo Antoninho Pão dos Pobres está localizada na Avenida Saudade, n° 202, em Ribeirão Preto – São Paulo.

A data de construção foi no século XIX, entre os anos 1893 e 1898. Seu ano de fundação foi em 1903, quando se rezou a primeira missa.

O autor do projeto inicial foi o engenheiro Cesar Formenti e a tipologia arquitetônica é eclética.

O reitor da igreja é o padre Gilberto Kasper.

Seu valor histórico está na referência à colônia de imigrantes italianos e por ser uma das construções religiosas mais antigas de Ribeirão Preto (juntamente às outras duas próximas a ela, mais antigas – uma pegou fogo e a outra foi demolida).

Palavras-chave: Igreja; Patologia; Recuperação.

IGREJA SANTO ANTONINHO
Figura 1 – Igreja Santo Antoninho

Construction Pathology

ABSTRACT

The Church Santo Antoninho Pão dos Pobres (Santo Antoninho Church) is located in Saudade Avenue, n° 202, at Ribeirão Preto-SP.

The date of construction was in the 19th century between the years 1893 and 1898. The foundation year was 1903 when the first mass was celebrated.

The author of the initial project was the engineer Cesar Formenti, the architectural typology is: eclectic.

Its historical value lies in its importance with the colony of Italian immigrants and for being one of the oldest religious buildings in Ribeirão Preto (the two also older, one caught fire and the other was demolished).

Keywords: Church; Pathology; Recovery.

Patología de las Construcciones

RESUMEN

La iglesia Santo Antoninho Pão dos Pobres (Iglesia Santo Antoninho) se encuentra en la Avenida Saudade, en el número 202, en Ribeirão Preto – São Paulo.

La fecha de construcción fue en el siglo XIX, entre los años de 1893 y 1898. El año de fundación fue en 1903, cuando rezaron la primera misa.

El autor del proyecto inicial fue el ingeniero Cesar Formenti y la tipología arquitectónica es ecléctica.

El rector de la iglesia es el padre Gilberto Kasper.

Su valor histórico se refiere a la colonia italiana y por ser una de las construcciones más antiguas de Ribeirão Preto (junto con las otras dos cercas de ella, que ya no existen, porque una fue quemada y la otra demolida).

Palabras clave: Iglesia; Patología; Recuperación.

  1. INTRODUÇÃO

Nenhum material é indefinidamente durável, pois suas propriedades variam em decorrência da interação da estrutura, mais especificamente da sua microestrutura com o meio ambiente.

As variações ocorrem ao longo do tempo e a vida útil (segundo a ISO – International Organization Standardzation 13823:2008). Entende-se por vida útil “o período efetivo durante o qual uma estrutura ou qualquer de seus componentes do projeto, sem ações imprevistas de manutenção ou reparo de um material se esgota quando suas propriedades tornam seu uso inseguro ou antieconômico” (Roque, J.; Moreno Junior, A, 2005).

A durabilidade não é simplesmente uma característica dos materiais, mas um resultado da interação de um material ou componente com o meio ambiente.

Esta interação provoca alterações nas propriedades iniciais resultando a degradação.

A agressividade do ambiente, definido na Norma NBR- 6118 da ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas, base para definir critérios de projeto, pode ser avaliada segundo as condições de exposição de uma estrutura, classificando o ambiente e sua agressividade podendo determinar o risco de desagregação de uma estrutura.

Devem também ser considerados o envelhecimento (Igreja construída entre os anos de 1882 a 1898 – de acordo com histórico da construção da Igreja fornecido pelo arquiteto Anderson Abe); e as deteriorações das estruturas.

Neste processo é previsto outros fenômenos como lixiviação (expansão por ação de águas); polinização de sementes trazidas por pássaros e consequentemente o aparecimento de arbustos.

A manutenção preventiva é primordial em estruturas (que não foi o caso em questão, pelo que consta); a não ser uma retirada um tempo atrás pelo Corpo de Bombeiros e, por conta disso, teve o aparecimento das seguintes patologias: desagregação, desplacamento, oxidação de ferragem, fendas, fissuras.

Patologia: pode ser definida como parte da engenharia que estuda os sintomas, os mecanismos, as causas e origem dos danos das obras civis, visando o diagnóstico do problema (Helene, 2003).

A estrutura da torre da Igreja Santo Antoninho corre, sim, o risco de colapsar (ruir) por ação de ventos, chuvas e outras intempéries. A técnica de recuperação deverá ser um estudo à parte após uma análise visual mais detalhada, inclusive, se necessário for, com extração de amostras indeformadas.

TORRE COM ARBUSTOS
Figura 2 – Torre com arbustos

2. MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS

2.1 RECALQUE DE FUNDAÇÃO

Pela ótica da estrutura, Berberian (2005) destaca que podem acontecer os recalques totais, diferenciais e distorcionais.

 Aqueles caracterizados pelo afundamento total das fundações, ou seja, soma de todas as parcelas de recalques, podem ser definidos como recalques. O recalque distorcional pode ser definido pela divisão do recalque diferencial pela distância entre dois pontos avaliados. Por último, os recalques diferenciais podem ser definidos pela diferença entre os recalques totais de dois pontos avaliados.

O modo como o edifício se comporta diante de uma ocorrência de recalque diferencial depende da interação entre a superestrutura, a fundação e o solo. Segundo Thomaz (1989), as fissuras provocadas por recalques diferenciais são inclinadas e apresentam aberturas que “se deitam” em direção ao ponto onde ocorreu o maior recalque.

TIPODISCRIMINAÇÃOEXEMPLOS
CarregamentoEstático Dinâmico;Sobrepeso;
Dimensionamento Inadequado;
Bulbo de tensões;
Variação de UmidadeVariação Sazonal;
Drenagem;
Cortes no relevo;
Barragens;
Chuva;
Seca prolongada;
Absorção por plantas;
Evaporação;
Rebaixamento do Nível D’água (NA) naturalmente;
Métodos de ConstruçãoEscavação;
Rebaixamento do NA mecanicamente;
Cravação de estacas;
Execução de aterros;
Ruptura de peças;
Cavas superficiais, túneis e galerias;
Camada mole, erosão interna e gradiente crítico;
Condições AmbientaisFatores geológicos;
Erosão;
Elementos biológicos;
Deterioração do elemento estrutural;
Cavernas cársticas;
Voçorocas;
Formigueiros;
Reação Álcali-Agregado (RAA);
Tabela 1 – Recalque de fundação – Fonte: GUSMÃO (2016)
Figura 3 – Recalque de fundação

2.2 BOLOR

O bolor é formado por diversas colônias de fungos filamentosos que são micro-organismos e têm compostos orgânicos como fonte de alimento. A temperatura, o pH e a umidade são fatores que definem o aparecimento e a manutenção do bolor em estruturas de concreto. Para se proliferarem precisam do perfeito ambiente com umidade elevada, que pode ser dado através de umidade na obra, umidade proveniente de vazamentos, ambientes com pouca ventilação e baixa incidência de radiação. Formam uma camada na superfície do material inicialmente com coloração esverdeada e depois progridem para o marrom e o preto.

A presença de bolor na estrutura indica um elevado grau de umidade e presença de organismos vivos, podendo trazer uma degradação produzida por vegetações que crescem através de pequenas fissuras e juntas de dilatação, provocando uma interação do tipo mecânica. Esse ambiente úmido também pode trazer à estrutura outras manifestações patológicas consideradas mais graves, como a corrosão de armaduras, por exemplo. A situação indica alta presença de umidade em contato com o concreto e, com isso, o fenômeno de biodeterioração torna-se bastante evidente.

Figura 4 – Bolor

2.3 FISSURAS / TRINCAS

As fissuras são os primeiros sintomas a aparecer em uma estrutura e podem se manifestar desde a construção até anos após a mesma. A depender de sua origem e intensidade, podem significar algo simples, como um problema estético, ou significar que algo grave está para acontecer. É de suma importância diagnosticar a origem e o que está causando a fissura, pois se as causas não forem solucionadas, de nada adiantará tratar apenas a abertura. A sua configuração, sua abertura, posição, espaçamento e trajetória podem indicar como foi causada.

Ainda em relação às fissuras, a NBR 6118 (ABNT, 2014) traz limites de tamanhos de aberturas para concretos armados inseridos nas classes de agressividade II e III (0,3mm) e IV (0,2mm). Em termos de aceitação, pelos critérios da norma, não há problema caso as aberturas tenham tais espessuras; porém, é importante dizer que aberturas são locais por onde agentes agressivos podem penetrar e por isso podem afetar a estrutura em termos de durabilidade.

Independentemente da origem diagnosticada, uma estrutura fissurada proporciona um meio de entrada ainda maior para agentes agressivos e de degradação, como o dióxido de carbono (CO2), e os íons cloretos (CI-), acelerando o processo de corrosão de armaduras e a degradação da estrutura.

Figuras 5 e 6 – Fissuras e Trincas

2.4 CORROSÃO DE ARMADURAS

A corrosão de armaduras é um dos processos degradantes com maior incidência nas estruturas. Para que possa acontecer, a corrosão precisa de um conjunto de fatores que tornam o ambiente favorável – são eles: presença de água, de ar, área anódica, área catódica, um condutor metálico (armadura) e um eletrólito.

O principal mecanismo de corrosão do aço se dá por meio eletroquímico, podendo ser corrosão localizada (conhecida como pites ou cavidades), que ocorre geralmente em ambientes em contato com os íons agressivos (cloretos) e sua formação se torna favorável na presença de oxigênio e umidade; ou corrosão generalizada, que ocorre em função da redução do pH para valores menores que 9.

Por acontecer um processo eletroquímico de corrosão, existe uma diferença de potencial entre as regiões da armadura, que são conhecidas como áreas anódicas e catódicas. Em uma barra de aço podemos observar que são alternativas, formando um efeito de pilha; a área de menor concentração de O2, onde apresenta corrosão de armaduras é a área anódica.

O processo de corrosão de armaduras avança da superfície até o interior da peça estrutural onde se encontra a armadura.

O cobrimento de uma peça estrutural é definido através de consulta à Tabela 7.2 da NBR 6118:2014, em que se tem uma correspondência entre a classe de agressividade ambiental com o cobrimento nominal.

As manifestações da corrosão de armaduras se apresentam em uma sequência iniciada pelo aparecimento de manchas superficiais amarronzadas, seguidas de expansões ocasionadas pela formação de oxi-hidróxidos, que ocupam espaços na maioria das vezes maiores que a seção original da barra da armadura, causando elevadas tensões de tração, podendo ser superiores a 15MPa.

Figura 7 – Corrosão de Armaduras

Correspondência entre classe de agressividade ambiental e cobrimento nominal para Δc = 10 mm

Tipo de estruturaComponente ou elementoClasse de agressividade ambiental (tabela 6.1)
IIIIIIIV³
Cobrimento nominal mm
Concreto armadoLaje²20253545
Viga/Pilar25304050
Concreto protendido ¹Todos30354555
Cobrimento nominal da armadura passiva que envolve a bainha ou os fios, cabos e cordoalhas, sempre superior ao especificado para o elemento de concreto armado, devido aos riscos de corrosão fragilizante sob tensão.
² Para a face superior de lajes e vigas que serão revestidas com argamassa de contrapiso, com revestimentos finais secos tipo carpete e madeira, com argamassa de revestimento e acabamento tais como pisos de elevado desempenho, pisos cerâmicos, pisos asfálticos e outros tantos, as exigências
³ Nas faces inferiores de lajes e vigas de reservatórios, estações de tratamento de água e esgoto, condutos de esgoto, canaletas de efluentes e outras obras em ambientes química e intensamente agressivos, a armadura deve ter cobrimento nominal ≥ 45 mm.
Fonte: ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas)

2.5 INFILTRAÇÃO

A quantidade de água absorvida por um material depende potencialmente da sua porosidade e capilaridade (Thomaz,1989). Neste sentido, os materiais de construção que, em sua grande maioria, são porosos, podem ser classificados como higroscópicos, ou seja, aqueles que absorvem ou perdem umidade de acordo com o aumento ou diminuição da umidade relativa (UR) do ambiente, respectivamente. Tal umidade poderá agir como agente de degradação dos materiais ou componentes por meio da expansão ou retração (Ribeiro; Barros, 2010). A água pode ter as mais diversas fontes que variam principalmente por: chuva, condensações, água proveniente da própria construção e umidade ascensional.
Nas alvenarias, um dos problemas mais comuns observados, principalmente em casas, é o manchamento ou fissurações nas bases das paredes de vedação. Tal problema é causado pela umidade ascendente proveniente do próprio solo, que percola pelos elementos e componentes por ascensão capilar devido às falhas ou inexistência de impermeabilização na fundação da construção (vigas baldrame). Este problema pode ainda estar associado à ocorrência de eflorescências devido à presença de sais em solução na água que vem do solo.
Figura 8 – Infiltração

2.6 DESAGREGAÇÕES

Falência do poder coesivo de materiais agregados. No caso de argamassas, a mistura feita com pouca cal ou o revestimento exposto às intempéries faz com que a argamassa tenha baixo poder coesivo, deixando a areia solta. A areia se solta simplesmente passando a mão sobre ela.

Figuras 9 e 10 – Desagregação

3. CONCLUSÕES

O projeto de recuperação estrutural está sendo solicitado no CONPPAC – Conselho de Preservação do Patrimônio Cultutal, uma vez que a igreja teve seu tombamento em 09/12/2009. Após esta aprovação da recuperação estrutural será dado início ao projeto de restauração arquitetônica. O pedido de recuperação já está há 12 anos aguardando aprovação.

4. AGRADECIMENTOS

Agradecemos ao reitor da igreja o Padre Gilberto Kasper, que trabalha incansavelmente para que a restauração arquitetônica seja realizada o mais breve possível.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Normas:

Associação Brasileira de Normas Técnicas. (2007). NBR 15575:2013. Norma Técnica Brasileira – Edificações Habitacionais – Desempenho. Rio de Janeiro.

Associação Brasileira de Normas Técnicas. (2007). NBR 6118:2014. Norma Técnica Brasileira – Projeto de Estruturas de Concreto – Procedimentos. Rio de Janeiro.

International Organization For Standardzation. (2008). General Principles on the Design of Structures for Durability. ISO 13823. Geneva: ISO/TC.

Livros:

Bauer, R. J. F. (1996), “Falhas em Revestimentos – Recomendações nas Fases de Projeto, Execução e Manutenção”, in: Apostila Grupo Falcão Bauer, São Paulo, Brasil.

Berberian, D. (2015), “Engenharia de Fundações”, Editora UnB – Infrasolo, Brasília, Brasil, 800 p.

Caporrino, C. F. (2018), “Patologia em Alvenarias”, Oficina de Textos, São Paulo, Brasil, 23 p.

França, A. A. V. et al. (2011), “Patologia das Construções: Uma Especialidade na Engenharia Civil”, Téchne, vol. 19, Paraná, Brasil, pp 72-77.

Helene, P. R. L. (1992), “Manual para Reparo, Reforço e Proteção de Estruturas de Concreto”, Pini, São Paulo, Brasil, 213 p.

Ribeiro, F. A.; Barros, M. M. S. B. (2010), “Juntas de Movimentação em Revestimentos Cerâmicos de Fachadas”, Pini, São Paulo, Brasil, 148 p.

Thomaz, E. (1989). “Trincas em Edifícios: Causas, Prevenção e Recuperação”, Pini, São Paulo, Brasil, 194 p.

Memórias de Congressos:

Roque, J. A., Moreno Junior, A. L. (2005), “Considerações Sobre a Vida Útil do Concreto” in: 1º Encontro Nacional de Pesquisa, Projeto e Produção em Concreto Pré-Moldado, São Carlos, Brasil.

Aulas:

Romero, J. R. H. (2016), “Durabilidade do Concreto”, UNIP, São Paulo, Brasil.

Romero, J. R. H. (2016), “Patologia do Concreto – Trincas e Fissuras”, UNIP, São Paulo, Brasil.